Ex-Presidente da JS Braga
Caro leitor, Esta semana, neste espaço, vamos falar sobre um projeto que requer algum segredo e revela a minha confiança em si, firmando um compromisso de honra para mantermos tudo o que vou revelar entre nós.
O projeto em causa é nada mais, nada menos, do que o BRT, ou seja, um Bus Rapid Transport, um projeto que promete revolucionar a mobilidade na cidade de Braga. Para quem não sabe, o BRT é uma modalidade de transporte público semelhante a um metro, com pneus, que circulam em vias exclusivas, ou seja, em vias de tráfego segregadas do restante trânsito, com semaforização sincronizada e estações específicas para o embarque e desembarque de passageiros.
Parece um “déjà vu”, não é? No passado, já ouvimos falar de um projeto de mobilidade único e revolucionário, de seu nome “ciclovia”, e que transformou a cidade de Braga numa espécie de Amsterdão do Minho, onde cada um de nós pedala, diariamente e alegremente, naqueles pedaços de via pintados a vermelho e com uns desenhos engraçados, meses antes das eleições.
Deixando a ironia de lado (para já!), a realidade é que o BRT é uma solução interessante e uma alternativa concreta, mais acessível e sustentável, aos sistemas de transporte individual, como os carros particulares. A ideia parece ótima e torna os transportes públicos mais atraentes, já que o BRT tem uma capacidade grande de transporte de pessoas, vantagem que, conjugada com a circulação em vias de acesso exclusivo, possibilita a redução do tempo de viagem e a diminuição do tráfego de veículos. Além disso, o BRT já é utilizado um pouco por todo o mundo, em países como o Brasil, Colômbia, China, Turquia ou nos EUA, com grande sucesso, mantendo o conceito básico dos “corredores” exclusivos e da grande capacidade do material circulante, mas adaptando o projeto às necessidades específicas de cada uma das cidades onde foi implementado.
E o que será que vai acontecer em Braga? Aparentemente, ninguém sabe muito bem, em concreto. Para já, segundo aquilo que foram as notícias, sabemos que o Governo resolveu incluir o BRT no PRR, disponibilizando 100 milhões de euros para a sua conclusão que, segundo o Presidente da Câmara Municipal, acontecerá até ao final de 2025, ano de eleições autárquicas.
Um projeto de mais de 100 milhões, em que se avança já com duas linhas, uma no percurso Estação Ferroviária – Minho Center e outra da mesma Estação até ao Hospital, passando pela Universidade do Minho, com 20 estações em que algumas “podem ser coincidentes”. Ou não. Talvez. Provavelmente. Em ambos os casos, sabemos que o trajeto a transformar inclui túneis, passagens superiores, cruzamentos, rotundas, o tão badalado Nó de Infias, numa cidade atolada de carros e na qual é difícil circular, nas horas de grande movimento e que dá prioridade ao automóvel, colocando em perigo, diariamente, peões e ciclistas e a preferência pela mobilidade suave.
O projeto do BRT, as opções e os seus impactos deveriam ser decididos em conjunto com os restantes partidos e com a sociedade civil. A falta de auscultação pública adequada e a falta de informação partilhada pode levar a erros de planeamento e de execução e poderá causar impactos negativos na mobilidade, até pelos constrangimentos que irá causar na rede viária, desde o início das obras até à sua conclusão. Mais que não seja, sabemos que o trajeto político da coligação, ao leme de “Braga: Capital das Festinhas”, está no fim e, como tal, não se compreende como se quer impor um projeto desta magnitude às gerações futuras, sabendo, de antemão, que uma área que seja objeto de financiamento por fundos comunitários não pode ser alvo de nova intervenção por um período de cinco anos.
Ah, caro leitor, o jovem que se preocupa com tudo isto, saberá sequer do que está a falar? Afinal, louvemos a vontade do executivo em arriscar. E, por fim, falemos da obra que não é muito agradável de ser ver mas “está legal” e que decorre, neste preciso momento, bem juntinha a um prédio, em pleno coração da cidade, em São Lázaro e que resultará, seguramente, numa melhoria clara da qualidade de vida dos cidadãos. Mas shhh… eles ainda não sabem!
Artigo publicado em: Correio do Minho